Se alguém me
perguntar: quem tem dificuldade em lhe dar com o sofrimento? Eu não saberei
responder. No entanto, tenho consciência que eu não sei, fujo do sofrimento
como o diabo foge do amor de Deus!
Hoje
percebi que minha fuga é inútil, pois onde poderei ir para me ver longe dele?!
Bebidas? Drogas? Suicídio? Sexo? Comida? Dinheiro? Bens materiais? Não acredito
que alguma destas coisas possam me livrar do sofrimento, elas até podem me
tirar alguns instantes da realidade, mas depois do prazer lá está o sofrimento.
Vivi para fugir do sofrimento, por vários motivos, com a fantasia de que eu não
possuía sofrimentos; para mim o sofrimento se resumia em dores físicas; como eu
não as tenho, logo, eu não sofro! Mas
o que é então o sofrimento? O que nos faz sofrer?
Para dar resposta a esta questão uso o texto
da primeira carta de são Pedro: “Cristo sofreu por vós deixando-vos um exemplo,
a fim de que sigais os seus passos.” (1Pd 2,21b).
Calma! Não vou falar para você abraçar a sua
cruz e seguir Jesus
A
primeira afirmação que Pedro nos faz é que Jesus sofreu, a partir daí devemos
pensar: o que então fez Jesus sofrer.
Quando
somos bebê o choro é o único meio de se comunicar com o mundo, este é um sinal
de sofrimento. O bebê chora quando está com fome, com frio, quando sente as
dores das cólicas intestinais, etc. Com Jesus não foi diferente, ele também
sofreu as coisas próprias dos bebês; a Virgem Maria só saberia que ele estava
com fome quando ele chorava.
Com o pouco material que temos sobre a
infância de Jesus, sabemos que ele foi educado na fé judaica; assim, sofreu a
dor da circuncisão e viveu os ritos próprios da religião judaica (para alguns
viver a fé é sofrimento).
Sofreu
a dor da morte de seu pai, José; pode ter sofrido também a dor da morte de seus
avós. Teve que suportar os sofrimentos do duro trabalho na carpintaria de seu
pai para poder sustentar a casa e cuidar de sua mãe.
Na idade adulta sofreu com a fome (cf. Mt
4,2b), com tentações (cf. Mt 4,1-11), com a doença e morte do amigo Lázaro (cf.
Jo 11,1-44); com a ausência dos amigos num momento de dor (cf. Lc 22,39-46);
com a traição (cf. Mt, 26,14-16) e com a negação (cf. Lc 22,54-62) daqueles que
lhe eram próximos.
A segunda afirmação que está contida na frase
da carta de são Pedro é que Jesus sofreu por vós.
Jesus
enquanto Palavra (Logos) de Deus, antes do evento da encarnação, não
compartilhava do sofrimento humano, pois era puro espírito. Mas Ele quis vir
até nós, que andávamos qual ovelha sem pastor, com a nossa própria carne, para
mostrar o verdadeiro caminho.
Jesus
ao abraçar a nossa carne, abraça-a totalmente, ou seja, abraça tudo o que é
próprio da nossa humanidade (menos o pecado), inclusive o sofrimento.
Que
loucura! Eu aqui tentando fugir do meu sofrimento e Jesus abraçou o sofrimento
da humanidade só para me mostrar o caminho que devo seguir: a autoaceitação.
Ora, se não aceito quem sou como poderei
aceitar o que Deus quer me dar? Se não aceito minha fragilidade como poderei
aceitar a Paternidade de Deus que cuida de seus filhos? Se não aceito a minha
miséria como poderei aceitar a misericórdia de Deus que acolhe o filho pródigo?
Se não aceito o sofrimento hodierno como poderei aceitar Jesus Cristo que viveu
o sofrimento como qualquer homem? Se não aceito o inesperado como aceitarei o
Espírito Santo que sopra onde e como quer?
Louvado sejais, ó Pai, pelo sofrimento em
minha vida! Pois através dele eu posso ser cuidado por Vós, qual criança nos
braços acolhedor de seu Pai.
Louvado sejais, ó Jesus, pelo sofrimento em
minha vida! Pois através dele eu posso me assemelhar um pouco mais a Vós; assim
como o Senhor sofreu por mim, também sofro eu por Ti.
Louvado sejais, ó Espírito Santo, pelo
sofrimento em minha vida! Pois assim como o Senhor guiou Jesus ao deserto (cf.
Lc 4,1) preparando-O para a sua missão; sei, pela fé, que o sofrimento que
agora enfrento é instrumento Vosso em minha vida para me levar para mais perto
de Vós. Amém.
Fonte: Monges da Trindade
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