domingo, 1 de maio de 2011

O dia esperado chegou! João Paulo II é beato

Você deixa o silêncio comunicar?



Fabio, sempre que chegava em sua casa, passava em todos cômodos e, em cada um deles, ligava um televisor e deixava-os ligados até adormecer. Vendo tanto desperdício, questionei o motivo e sua resposta foi que não gostava de ouvir o silêncio.
Fabio não percebeu o que vivenciou no silêncio Philip Gröning, o cineasta alemão que fez o filme Die grosse Stille (O grande silêncio) que surpreendeu pelo sucesso, pois retrata, em três horas, a vida dos monges cartuxos: “No princípio, estava muito triste e solitário. Quando não se fala, a pessoa começa a refletir sobre o que faz e vem um vazio. Então a coisa mudou, pouco a pouco a percepção ficou bem mais clara, e tive uma sensação tranqüilizadora. Tudo o que você vê ou ouve o faz feliz como ser humano. É uma coisa curiosa: quando você consegue não ficar pensando no próximo momento, nem fazer muitos planos – é uma espécie de pura felicidade. Você fica simplesmente feliz”, afirmou Gröning .
A vida moderna, cada vez menos, deixa espaço para o silêncio se comunicar, pois fatalmente ele leva o ser humano a um confronto com seu interior, a encontrar a verdadeira dimensão do seu ser e de sua relação com o divino. Nessa sua reflexão, ao verificar sua limitação, sua finitude, o ser humano descobre Deus.
Só o silêncio nos torna receptivos. A pessoa desatenta não dá nenhuma entrada a Deus. Diz o Apocalipse: “Eis que estou à tua porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, cearei com ele e ele comigo (Apoc 3,20). O desatento não abre, pois não ouviu; estava distraído. Eis porque o Rei Salomão pediu uma só coisa: "Dai-me um coração atento (1Reis 3,9).
Como símbolo do coração atento, nada mais belo e expressivo que a flor do girassol. Desde que brota até o dia em que a haste se quebra sob o peso dos grãos maduros, ela olha de frente para o sol. De manhã à noite, segue o percurso do astro rei. Durante a noite, faz o movimento inverso, e ao despontar da aurora, ei-la já à espreita do sol. As nuvens não a impedem de seguí-lo, mas a sombra  dos edifícios construídos pelos homens priva-a irremediavelmente de seus raios. A flor , então, detém-se voltada para o ponto em que o sol desapareceu, esticando o pescoço desorientada e infeliz.
Criar um espaço para que o silêncio fale deveria ser uma preocupação de quem constrói nossas igrejas, pois se é preciso a claridade para ler; para orar é necessário recolher-se no interior. É preciso a existência da penumbra. Esta convida ao silêncio, à reflexão, à prece.
São João da Cruz expressa algo muito belo: “Deus tem uma só palavra, que é o seu Verbo, e seu Filho. Essa Palavra ele a diz no eterno silêncio, e é no silêncio que a alma a ouve”.

Autor: Diácono Francisco de Assis Gonçalves
Fonte: Pastoral da Comunicação
Arquidiocese de São Paulo

Diácono Francisco de Assis Gonçalves é coordenador da Pastoral da Comunicação da Arquidiocese de São Paulo