quarta-feira, 30 de março de 2011

CF-2011 - A natureza e a proposta de Jesus

Jesus, como missionário itinerante, movimentou-se por inúmeros lugares e diversificadas paisagens. Seus ensinamentos possuem forte vinculação com a natureza: ela é uma das principais fontes de inspiração para sua proposta. Jesus demonstra possuir profundo senso de observação do seu ambiente vital. Dessa realidade extrai a maioria de suas parábolas, meio privilegiado para despertar uma nova consciência em seus interlocutores. “A fonte de sua sabedoria pode ter sido vista como uma profunda consideração do mundo natural e seus processos, conduzida à luz das escrituras hebraicas e do Deus criador de que elas falam” (Freine, 2008, p. 46). 


Jesus herdou de sua tradição religiosa a concepção de Deus como Criador e capta a sua presença nos mínimos aspectos da natureza e nos gestos aparentemente insignificantes das pessoas sem projeção social. É revelador da sua fé e da sua atitude de profunda contemplação aquele momento em que se dirige ao Pai em ação de graças: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra...” (Mt 11,25). O Pai é cuidador da vida de seus filhos e proporciona todos os recursos necessários para a vida de cada um deles, também dos pássaros do céu e dos animais do campo.
A providência divina, tão evidente em toda a natureza, está vinculada ao cuidado que o ser humano deve ter com todas as coisas. 


Jesus convida a sua audiência a considerar os lírios do campo, cuja vida é tão breve, e os pássaros no ar, que, aos olhos dos homens, têm pouco valor por conta do seu grande número. Não obstante, em ambos os casos, Deus provê as necessidades deles. No interior dessa “cadeia do ser”, os seres humanos podem ter um lugar especial, mas isso não deve levá-los a ignorar o cuidado que Deus tem pelos elementos em aparência mais insignificantes do seu mundo criado, do qual também
são parte (Freine, 2008, p. 45). 


A providência divina está, portanto, intimamente ligada à ética social. Herdeiro da legítima tradição profética de Israel, Jesus condena veementemente a exploração econômica, a concentração dos bens e toda forma de dominação. Em sua missão em favor das pessoas marginalizadas, deixa claro não ser possível “servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24). Relaciona-se com todas as criaturas, respeitando a dignidade de cada ser. É só abrir o Evangelho e observar, em cada texto, como Jesus vive e apresenta a sua proposta de vida digna sem exclusão. Por meio dos cinco sentidos próprios de todo ser humano, ele expressou seu amor cotidianamente, construindo relações de fraternidade e de justiça. Seus olhos, ouvidos, tato, olfato e paladar revelam sua maneira característica de ser portador da graça divina em todo lugar e em toda circunstância. Sua prática transformou-se em caminho para uma vida verdadeiramente humana, que ele chamou de “reino de Deus”.

Celso Loraschi ( Professor de Evangelhos Sinóticos e Atos dos Apóstolos no Instituto Teológico de santa Catarina , florianópolis.

Fonte: http://www.paulinos.org.br/novo/vidapastoral

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