sábado, 23 de outubro de 2010

O católico e a política

Prof.Felipe Aquino
O leigo é chamado a "consagrar o mundo a Deus"; isto é, levar o mundo em que vive e trabalha a viver o Evangelho. Ele chega nos lugares mais escondidos da sociedade, onde é difícil o clérigo chegar. Seu campo de atuação é a fábrica, a rua, o comércio, a universidade, etc; e também a política. Aí  também ele é chamado a ser o  "o sal da terra e a luz do mundo" (Mt 5,13-14).


A política é a arte de se buscar  o bem comum; isto é, o respeito pela dignidade humana e  satisfação de suas necessidades básicas e fundamentais: habitação, educação, saúde, trabalho, segurança, alimentação, etc. Por isso, a Igreja sempre aconselhou os seus filhos preparados a enfrentarem este desafio.

A política é bela e necessária. O Vaticano II a chamou de "difícil e nobilíssima arte" (GS, 75). O detestável é a politicagem; isto é, o uso mesquinho da política em causa e enriquecimento próprio. Aquilo que deveria ser um nobre serviço ao povo, se transforma, então, em traição a este povo. Por causa de tantos maus exemplos desta natureza, o povo está descrente dos políticos; e esta classe é hoje, sem dúvida, a que recebe maior descrédito da sociedade.

No entanto, a política sadia continua sendo boa e necessária, mais do que nunca, porque é através dela que a sociedade é dirigida e a autoridade é exercida para o bem do povo.  Quanto mais os bons fugirem da política, mas os maus a dominarão. Dizia o Papa Leão XIII que "a audácia dos maus se alimenta da covardia dos bons". Mais do que nunca isto é verdade no campo da política.

O Concílio Vaticano II incentivou o leigo a fazer da política um campo de apostolado, veja:
"A Igreja considera digno de louvor e consideração o trabalho daqueles que se dedicam ao bem da coisa pública a serviço dos homens e assumem os trabalhos deste cargo."
"Todos os cristãos se tornem cônscios de seu papel próprio e essencial na comunidade política". 


" Além disso com empenho se deve cuidar da educação civil e política, hoje muito necessária tanto para o povo como sobretudo para a juventude a fim de que todos os cidadãos possam desempenhar o seu papel na vida da comunidade política. Os que são idôneos ou possam tornar-se para exercer a difícil e ao mesmo tempo nobilíssima arte política, preparem-se para ela e procurem exercê-la, esquecidos do proveito próprio e de vantagens materiais. Pela integridade e com prudência, lutem contra a injustiça e a opressão, ou o absolutismo e a intolerância.." (Gaudium et Spes, 75).

E a Igreja recomenda que aqueles que estão preparados não fujam desta missão:
"Os católicos versados em política, e devidamente firmes na fé e na doutrina cristã, não recusem cargos públicos, se puderem por uma digna administração prover o bem comum e ao mesmo tempo abrir caminho para o Evangelho (AA, 14)".

O Catecismo da Igreja reconhece a necessidade da autoridade pública:
 "Não há autoridade que não venha de Deus, e as existentes forma instituídas por Deus" (Rom 13,1). (Cat. §1918)
"Toda comunidade humana tem necessidade de uma autoridade para se manter e desenvolver". (Cat. §1919)


"A autoridade é exercida de maneira legítima se estiver ligada à busca do bem comum da sociedade. Para atingi-lo deve utilizar meios moralmente aceitáveis". (Cat. §1921)
"O quarto mandamento ordena também que honremos todos aqueles que, para nosso bem, receberam de Deus uma autoridade na sociedade." (Cat. §2234)


"A sociedade humana não estará bem constituída nem será fecunda a não ser que lhe presida uma autoridade legítima que salvaguarde as instituições e dedique o necessário trabalho e esforço ao bem comum". (Cat. §1897)


Por outro lado, a Igreja lembra que a autoridade tem sérias obrigações:
"A autoridade não adquire de si mesma sua legitimidade moral. Não deve comportar-se de maneira despótica, mas agir para o bem comum como uma "força moral fundada na liberdade e no senso de responsabilidade". (Cat. §1902)

Portanto, os cristãos preparados para isto, devem participar ativamente da vida pública. Mas, algumas exigências são necessárias. Em primeiro lugar, que a pessoa seja idônea, honesta, e disposta a servir ao povo; e não, servir-se do povo. Em segundo lugar,  deve estar preparada para esta função, o que não é fácil; é preciso liderança e um certo preparo intelectual. Terceiro, como cristão, estar disposto e preparado para atuar segundo o Evangelho e os ensinamentos da Igreja, especialmente no que se refere à Moral católica. Esta não aceita o principio cômodo e fácil de que "os fins justificam os meios". São Tomás de Aquino ensinava que: "Não se pode justificar uma ação má, embora feita com boa intenção" (S. Tomás de Aquino, Decem. prec. 6).


Hoje trava-se um duelo da vida contra a morte, no campo da bioética;  e esta decisão será sobretudo política. Mais e mais países, a cada dia, aprovam, contra a moral católica, o aborto, a eutanásia, o bebê de proveta, a inseminação artificial humana, a manipulação de embriões, o uso da "camisinha", etc. Somente a Igreja católica tem sabido se opor com segurança e bases filosóficas contra essa enxurrada de imoralidade. E tudo isto é decidido na arena política; daí, a necessidade urgente de políticos cristãos, conhecedores da doutrina da Igreja, para defender no meio dos homens a Lei de Cristo.


Ainda mais, o cristão não pode entrar na política movido pela mínima intenção de "arranjar um bom emprego", ganhar um bom salário ou ter prestígio e poder. O cristão é como Cristo, "vive para servir e não para ganhar ser servido" (cf. Mt 20,26). É claro que terá direito a um salário, necessário à sua subsistência, mas isto deve ser o "acréscimo" do Evangelho, e não uma ambição.


Infelizmente se nota, às vezes, que até bons cristãos antes de serem políticos, acabam sendo dominados pelos vícios da politicagem: corrupção, conchavos, desrespeito à moral católica, etc. Já dizia um velho ditado que "o poder corrompe". Se o político cristão, não agir, tão somente, por amor a Deus e aos irmãos, poderá ser devorado pela corrupção e troca de favores. Então, ao entrar para o difícil mundo da política, o cristão precisa, mais do que os outros, zelar cuidadosamente, sem vacilar, na "vigilância e oração", a fim de não cair nas tentações que serão muitas. Não faltarão ocasiões onde se lhe serão apresentadas as oportunidades de trocar o seu voto e prestígio por um punhado de dinheiro ou por outros benefícios escusos.


Outro defeito grave que se nota, até em bons políticos, é a preocupação com a sua reeleição; isto faz com que esses passem a trabalhar mais em função da ambição pessoal da sua reeleição do que pelas reais necessidades do povo. Aí então, tudo se complica e se compromete, pois uma "segunda intenção" passa a dominar os atos da pessoa.  

Prof. Felipe Aquino

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